O Trapiche
O Trapiche de Valença
Valença do Trapiche ao Contrabando
O trapiche e o contrabando fazem parte da memória coletiva de Valença.
Em Valença chamam-se trapicheiras e em Tui raianas da Galiza.
Durante décadas as mulheres valencianas e tudenses deram vida ao trapiche, uma forma de “contrabando” legal, autorizado nesta zona da fronteira. A atividade do trapiche consistia em passar produtos na fronteira, sem pagar impostos, que na outra margem do rio poderia ter grande diferencial de preço. O volume de bens a passar por cada trapicheira / raiana era regulado e controlado.
As Apalpadeiras
A Casa da Revistadeira era o local onde estavam as “apalpadeiras” (senhoras que revistavam as trapicheiras) e verificavam os produtos trazidos pelas trapicheiras.
A Indumentária da Trapicheira
A trapicheira dos «velhos tempos» trajava de negro por ser viúva ou por julgar que essa cor traria ao de cima os sentimentos de pena por parte das autoridades.
Mandranas– saias ate aos pés em cores negras, aventais que em todo o cumprimento tinham tubos para colocar o café ou ovos…; “Diz-se que numa mandrana podiam caber até 25 quilos de café, que acrescentados ao peso das sacas levadas à mão e à cabeça, mostram que uma trapicheira podia transportar, a pé, até 50 quilos de mercadoria diversa em cada uma das várias travessias diárias da velha ponte, sob qualquer condições climatéricas.”
Roupas escuras- para apelar à piedade dos guardas, como sendo viúvas;
Blusas de Xita-
Xaile Negro- para cobrir nas ,madrugadas, que camuflava mercadorias;
Lenço à cabeça- dando o nó para camuflar café
Rodilha – usada na cabeça
Avental- de chita, com dois grandes bolsos abertos à altura da barriga, um para as pesetas
Cestas de Vimes- para trazer produtos ou sacas de rede
Arte de “Enganar” as Autoridades
“Os ovos no início iam nas mandranas, mas depois eram levados à cabeça em gamelas de pau. E depois cobríamos por cima com hortaliça para não verem o que levávamos ali.”
Produtos do Trapiche
“Por volta de 1972, às quintas-feiras, dia da feira de Tui, podiam transportar legalmente, com a sua quota de peixe, « seis pastas de chocolate, uma saca de caramelos, três latas de « melocoton », uma garrafa de azeite, um par de pantufas e alguma fruta da época, quantidades a que, pelo Natal, eram acrescentadas outras, também diminutas, de uvas passas, torrão de Alicante, polvo, vinho de missa e conhaque Fundador”
Produtos que iam de Valença para Tui
Café; sabão; tecidos; ovos; farinha; açúcar; produtos agrícolas….
Tui para Valença
alpergatas; produtos alimentares; caramelos; carne; peixe….
Linguajar das Trapicheiras
No aspeto linguístico « a constante foi a adoção e a perversão de vocábulos espanhóis que por força das circunstâncias, lhes eram de uso permanente. Dentre eles queremos exemplificar com a palavra « chirelo», concebida e de utilização tão corrente em todo o vale de Minho, e que nunca tivemos o ensejo de ver recolhida nos dicionários de Língua Portuguesa consultados . « Chirelo » significa chicharro grande, esse peixe azul, de escama grossa e prateada,, gordo, proteico, que durante anos e anos assegurou presença dominante na dieta dos raianos. Deriva, com toda a certeza, do vocábulo castelhano « jurel », que identifica a mesma espécie de peixe, e em que a áspera guturalidade do «j», nada fácil de pronunciar pelas bocas portuguesas, foi cedendo lugar à forma mais branda de «ch» cristalizando, suavemente, em «chirelo